Três tendências que moldam a sustentabilidade e ESG nas empresas: regulação, estratégia e liderança

Embora Sustentabilidade e ESG nas empresas tratem da mesma questão – mudar o modelo de fazer negócios –, é interessante entender a diferença entre esses dois conceitos.
ESG traz indicadores ambientais, sociais e de governança para decisões de investimento, para além dos critérios usuais do mercado financeiro, como rentabilidade, competitividade, solidez e níveis de endividamento, com o objetivo de reduzir riscos e garantir retorno.
Sustentabilidade trata de uma perspectiva mais sistêmica e abrangente, considerando os impactos dos negócios para a preservação do meio ambiente, a justiça social e o desenvolvimento econômico. O conceito significa a capacidade de suprir as necessidades individuais no presente sem comprometer o futuro coletivo.
“Nesse contexto, a capacidade de ler cenários é o que diferencia um profissional do outro”, diz Sonia Consiglio, conselheira de administração de empresas e professora do Curso Completo de Comunicação para Sustentabilidade.
Com uma carreira sólida no mercado financeiro, ela já foi diretora da B3, e presidente do Conselho Deliberativo do ISE – Índice de Sustentabilidade Empresarial, presidente do Conselho da Rede Brasil do Pacto Global da ONU, e do Conselho Consultivo da Global Report Iniciative (GRI) Brasil. Sonia observa as seguintes tendências na inserção de sustentabilidade e aspectos ESG nas empresas no cenário atual:
- Aumento da Regulamentação
Observa-se um aumento significativo da regulamentação relacionada à sustentabilidade e ESG, tanto no Brasil, quanto internacionalmente. Esse movimento crescente, impulsionado pela necessidade de mitigar riscos e garantir a conformidade, exige que as empresas se adaptem e se mantenham atualizadas. Destacam-se:
- A Norma 193 da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que tornou obrigatória para as empresas listadas na B3 a adoção dos padrões S1 e S2 da IFRS para divulgações financeiras ligadas à sustentabilidade, riscos climáticos e estratégias de mitigação.
- A Lei 15.042 de 2024, que criou o Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões (SBCE), o mercado de carbono regulado, para empresas que emitem mais de 10 mil toneladas de dióxido de carbono equivalente por ano, estabelecendo metas de redução das emissões e a adesão a práticas de descarbonização.
- A nova lei da União Europeia, a CS3D (Corporate Sustainability Due Diligence Directive), que obriga empresas que exportam para a Europa a auditar suas cadeias de fornecimento para prevenir violações de direitos humanos e ambientais. Essas normas serão implementadas entre 2027 e 2029, dependendo do porte da empresa.
- Integração de aspectos ESG na estratégia dos negócios
Diante do cenário regulatório em evolução, a integração dos aspectos ESG na estratégia dos negócios se torna fundamental para garantir a resiliência e o sucesso a longo prazo. Espera-se que os critérios ambientais, sociais e de governança sejam elementos intrínsecos à estratégia central da empresa, e influenciem todas as decisões e processos da organização. O processo de integração de ESG à estratégia pode seguir os seguintes passos:
- Definição do propósito da empresa.
- Engajamento e comprometimento da liderança, adotando práticas mais responsáveis e demonstrando a todos que a sustentabilidade é uma prioridade.
- Desenho de metas claras e mensuráveis em relação aos critérios ESG.
- Monitoramento do progresso das metas ao longo do tempo e adaptações necessárias.
- Aproveitar as oportunidades de inovação e novos negócios, como a redução de custos operacionais, o desenvolvimento de produtos e serviços, e novos clientes.
- Identificar e mitigar riscos ambientais, sociais e de governança que podem afetar seus negócios.
- Comunicação transparente com os stakeholders, divulgando informações relevantes sobre as práticas e o desempenho da empresa em relação aos critérios ESG.
- Desenvolvimento de novas habilidades na liderança
Para navegar com sucesso na adoção de estratégias ESG e de sustentabilidade, as lideranças precisam desenvolver novas habilidades e competências. Entre as mais importantes está o pensamento em sistemas multinível. Ou seja, uma postura solucionadora, que envolva a colaboração com outras organizações, sociedade civil, academia, poder público – em níveis local, regional e global. Em termos práticos, um líder com pensamento em sistemas multinível seria capaz de:
- Analisar os impactos ambientais e sociais de suas decisões em toda a cadeia de valor da empresa.
- Identificar oportunidades de colaboração com outras organizações para enfrentar desafios comuns.
- Engajar os stakeholders em um diálogo aberto e transparente sobre as questões de sustentabilidade.
- Desenvolver soluções inovadoras que considerem as necessidades de todos os envolvidos.