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Dois termos ligados à sustentabilidade que você precisa saber – e três que deveria esquecer e atualizar

sustentabilidade

É natural que cada mercado, setor ou grupo de profissionais tenha seus jargões – a sustentabilidade corporativa também tem os seus próprios termos. Você sabe o que significa Cisnes Verdes? Tem certeza de que utiliza corretamente a sigla ESG?

Os jargões servem para facilitar e tornar mais rápida e concisa a comunicação e compreensão entre pessoas que compartilham a mesma área de conhecimento técnico ou experiência. Além disso, o uso de jargões pode ajudar a fortalecer o sentimento de pertencimento e identidade dentro destes grupos. Ou revelar que alguém está desatualizado sobre uma linguagem temática.

No entanto, quando jargões se tornam mais populares entre o público leigo, facilmente podem ser utilizados de forma equivocada, para representar outro significado ou em contextos inapropriados. Além disso, o uso excessivo de jargões pode dificultar a compreensão entre novos integrantes destes grupos de profissionais ou entre pessoas de fora.

Outro ponto importante é que o uso de jargões pode transmitir uma imagem de autoridade e experiência sobre determinado assunto – mas o efeito pode ser o oposto se o interlocutor conhecer do tema em questão e o jargão for utilizado de forma imprecisa. Veja a seguir dois jargões ou termos que quem trabalha com sustentabilidade precisa conhecer mais profundamente, e três que você deveria abolir, e no seu lugar, adotar conceitos atualizados.

Cisne Verde

No final dos anos 1990, John Elkington, um dos precursores da responsabilidade social e ambiental nas grandes empresas, publicou o livro “Canibais de Garfo e Faca”. Nele, apresentava o conceito de sustentabilidade baseada em três pilares: prosperidade econômica, a qualidade ambiental e a justiça social. Elkington aproveitou o jargão em inglês que comumente representa o resultado final de uma empresa – “bottom line”, na tradução literal “a última linha”, se referindo a linha do balanço financeiro que se refere ao lucro da empresa. E cunhou o termo “Triple Bottom Line”, muito conhecido como “Tripé da Sustentabilidade”, para se referir a três linhas de resultados essenciais dos pilares de um negócio sustentável: profit (lucro), planet (planeta) e people (pessoas).

Em abril de 2020, Elkington publicou “Green Swans: The Coming Boom in Regenerative Capitalism” (na tradução literal “Cisnes Verdes: O Próximo Boom do Capitalismo Regenerativo”), ainda sem versão em Português. “John Elkington mudou de ideia. E ele veio a público e fez um recall: ‘só o tripé já não dá mais conta’. E propôs a ideia do Cisnes Verdes”, conta a relações-públicas Natália de Campos Tamura, professora da Aberje desde 2012, e uma das idealizadoras do Curso Completo em Comunicação para a Sustentabilidade e ESG.  

Criado com base no termo “cisne negro”, popularizado pelo pesquisador Nassim Taleb, para se referir a eventos fora da curva que têm um forte impacto negativo ou até catastrófico, “cisne verde” se refere a à perspectiva de uma crise financeira causada pelas mudanças climáticas. O conceito é título de uma publicação de janeiro de 2020 do Bank for International Settlements (BIS), conhecido como “o banco dos bancos centrais”, com sede na Suíça.

ESG

ESG é o acrônimo em inglês para Environmental, Social and Governance. O termo surgiu pela primeira vez em uma publicação de 2004 da Organização das Nações Unidas (ONU) destinada ao mercado financeiro, sugerindo a adoção de critérios ambientais, sociais e de governança (ASG, na tradução para o português) em análises financeiras, gestão de investimentos e corretagem de seguros. Elaborado pelo Pacto Global, iniciativa formada pela ONU em 2000 para estimular empresas a adotar políticas de responsabilidade social corporativa e sustentabilidade, o documento destaca o papel fundamental do mercado financeiro para construir uma economia mais estável e inclusiva.

A partir de 2018, o termo se popularizou depois de Larry Fink, CEO da BlackRock, maior gestora de investimentos do mundo, com cerca de US$ 10,5 trilhões (R$ 54 trilhões), passou a tomar uma postura ativista. Embora o jargão ESG esteja relacionado à sustentabilidade, não deveria ser usado como sinônimo. Sustentabilidade, em sua essência, se refere à capacidade de satisfazer às necessidades do presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras de satisfazerem suas próprias necessidades – o que abrange uma gama mais ampla de questões ambientais, sociais e econômicas, por exemplo, a restauração da natureza e a justiça social.

De acordo com a professora do Curso Completo em Comunicação para a Sustentabilidade e ESG da Aberje, Natália de Campos Tamura, desde 2012 na União Europeia há uma classificação de finanças sustentáveis – tema ainda em discussão no Brasil. “Por aqui, é comum as empresas buscarem consultores pedindo um ‘selo ESG’. Precisamos explicar que é um movimento mais amplo. A empresa não deveria se autodeclarar ESG, ou se contentar em aparecer no resultado de um ranking, mas utilizar metodologias, métricas e indicadores ambientais, sociais e de governança”.

Três Termos para Atualizar:

Prostituição Infantil

O termo “prostituição infantil” não deve ser mais utilizado. O termo correto para se referir a este crime é exploração sexual de crianças e adolescentes. Pessoas mais vulneráveis, como crianças e adolescentes, acabam sendo coagidas à exploração sexual seduzidas com discursos de que vão poder fazer dinheiro para sustentar a família ou “ficarem ricas”. Em alguns casos acabam sendo coagidas pela própria família, não tendo seus direitos assegurados. “A mudança de narrativa, a forma de contar as histórias e os fatos é muito importante para a sustentabilidade”, explica Natalia Tamura sobre o papel da comunicação na conscientização dos diversos públicos sobre os problemas, neste caso, sociais. 

A prostituição é permitida no Brasil, o que significa que qualquer pessoa pode escolher se prostituir sem o risco de ser presa. No entanto, há muitos crimes associados a essa prática, previstos na Constituição Federal. Utilizar o termo “prostituição infantil” está equivocado porque crianças e adolescentes submetidos à exploração sexual não escolhem esta condição, mas são forçadas violentamente. O mesmo pode ocorrer com mulheres e homens adultos. 

Orfanato e Morador de Rua

Quando se fala em trabalho voluntário ou instituições para empresas realizarem iniciativas filantrópicas, ainda se escuta em reuniões corporativas termos como orfanato e morador de rua – que não devem mais ser utilizados. Também não se usa mais “crianças carentes” e “menor abandonado”.

O Estatuto da Criança e Adolescente (ECA), publicado em 1990, redesenhou as regras para o acolhimento, cuidado e garantia de direitos de crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade. “Orfanatos não existem. Há muitos anos, pela legislação, o que a gente tem são locais que abrigam crianças que estavam em vulnerabilidade com os pais cuja guarda foi retirada por um tempo até que a família se restabeleça. Então ela não é órfã, e os abrigos têm acomodações como se fosse de uma casa”, explica Natália de Campos Tamura, professora do Curso Completo em Comunicação para a Sustentabilidade e ESG da Aberje.  

Hoje há mais de 4.500 unidades de acolhimento no Brasil, e caso as tentativas de reintegrar a família sejam esgotadas, a criança ou adolescente pode ser encaminhada para adoção, ou permanecer nos lares provisórios até que complete 18 anos de idade.

“Da mesma forma, a gente ainda ouve pessoas falando em moradores de rua. Ninguém mora na rua porque quer, porque acha bacana, porque é ‘vagabundo’ – falas carregadas de violência que a gente ainda ouve muito. Enquanto é preciso olhar de fato para a questão do que leva uma pessoa à rua”, comenta Natália.  Pessoas em situação de rua também estão em um contexto de vulnerabilidade, uma condição provisória que pode ser transformada com o apoio da sociedade, dos governos e das empresas. 

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