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Expedição Amazônia: Repensando a Comunicação pela Alteridade

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    O autor Larrosa-Bondía defende que “a experiência, a possibilidade de que algo nos aconteça ou nos toque, requer um gesto de interrupção”. Inspirada por esse pensamento, a “Expedição Amazônia: conhecer para comunicar” foi concebida com este intuito: ser uma experiência que exigiria de cada participante e, inclusive de mim, uma interrupção do nosso dia a dia, para ser vivenciada genuinamente. Uma pausa sobre nossos pensamentos, nossas crenças, nossos achismos. 

    Foi uma semana intensa experienciada fora da nossa realidade, deixando que o desconhecido interferisse na ordem de nossas supostas razões e trouxesse novos sentidos e sentimentos. Permitindo que nos confundisse, nos desequilibrasse, nos seduzisse por respostas, nos tocasse e nos transformasse. Mesmo já tendo liderado esta expedição anteriormente, saí dessa nova jornada transformada, tanto pessoal quanto profissionalmente.

    Um dos grandes aprendizados da expedição foi a percepção de que o pensamento diferente só emerge quando estamos dispostos a ouvir vozes distintas das nossas. A experiência de estar em contato com as diversas culturas e realidades da Amazônia foi essencial para reavaliar nossas comunicações. 

    Afinal, é ouvindo os outros que conhecemos, inclusive, a nós mesmos: nossas falhas, nossos vieses, nossas simples visões sobre as complexidades. Tudo isso impacta a maneira de nos comunicarmos. Se eu conheço uma pequena parte da realidade, minhas comunicações serão sobre ela. Se eu apenas escuto as mesmas vozes, as minhas comunicações vão ecoar apenas as mesmas falas. E, por isso, é conhecendo os outros e – consequentemente – conhecendo a nós mesmos, é que podemos nos comunicar melhor.

    A expedição nos proporcionou o contato com cientistas, professores, empreendedores, comunicadores e líderes comunitários – entre muitos outros – e cada uma dessas vozes trouxe uma visão única sobre a Amazônia, suas riquezas e desafios. Esse encontro de saberes tornou possível repensar as histórias do passado e criar novas narrativas para o presente e o futuro.

    As múltiplas vozes da Amazônia

    A Amazônia, com sua vastidão e diversidade, requer uma abordagem comunicativa que compreenda suas múltiplas realidades e respeite suas singularidades.

    Em uma das conversas que mais me marcou, o professor Philip Fearnside, Nobel da Paz, nos alertou sobre a perda de resiliência da floresta amazônica e as consequências ecológicas desse processo. Complementando essa perspectiva, a professora Andrea Waichman nos desafiou a refletir sobre como conciliar a proteção da floresta com o progresso econômico e o bem-estar das comunidades locais.

    Exploramos também o papel da inovação tecnológica na preservação da biodiversidade e no desenvolvimento econômico. No Museu da Amazônia (Musa), discutimos biomimética com o biólogo Thiago Carvalho, explorando como o estudo da flora e fauna locais pode inspirar soluções inovadoras para desafios humanos. No Centro de Bionegócios da Amazônia (CBA), conhecemos projetos que utilizam recursos amazônicos para criar produtos sustentáveis, como óleos, remédios e cosméticos. No Impact Hub Manaus, um centro de empreendedorismo e inovação social, dialogamos sobre a importância de valorizar e comunicar as cadeias produtivas locais e vimos como o storytelling pode contribuir para que o consumidor perceba seu papel social no desenvolvimento sustentável, ao se conectar com a história dos produtos que consome.

    Durante a viagem, conhecemos também o papel fundamental junto às comunidades locais, como o que é realizado pela Fundação Amazônia Sustentável (FAS). Em um encontro com Valcleia Solidade, superintendente da entidade, ela nos contou sobre as ações para levar prosperidade para comunidades ribeirinhas e indígenas, que, como Valcleia nos explicou, significa o direito de todo e qualquer cidadão alcançar o desenvolvimento material e o bem-estar social.

    O saber local e a potência da comunicação

    Uma das lições mais valiosas que levo dessa expedição é a importância de dar voz às pessoas da Amazônia em vez de falar por elas. Conhecer o saber localizado, respeitar o tempo e o espaço de cada comunidade e ouvir suas histórias foi fundamental para construir novas narrativas e questionar minhas próprias certezas. Os projetos que conhecemos representam oportunidades significativas para apoiar a preservação da floresta e o bem-estar das comunidades. Não dá para falar sobre sustentabilidade sem conhecer a Amazônia e as realidades das pessoas que nela vivem.

    Por fim, esta expedição reforçou a certeza de que, para comunicar com responsabilidade sobre sustentabilidade e preservação ambiental, é essencial vivenciar, conhecer e respeitar as complexidades da Amazônia. A comunicação efetiva nasce do encontro com o outro e da compreensão das múltiplas realidades que compõem o cenário amazônico.

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